*Tornando a surgir do nada, cheguei tonta e cambaleando novamente. Seja lá o que estivéssemos fazendo, não pretendia realizar tão cedo. Agarrando uma cadeira próxima para manter o equilíbrio, encarei, ainda com a visão desfocada, o diretor que se despedia e partia logo em seguida. Sequer me dera chance de agradecer...*
*Sentando-me na mesma cadeira de madeira pobre e gasta em que segurara, ainda meio zonza, tentei recuperar o foco. Meu gato listrado pulara para a mesa e acabara por se deitar, a cabecinha erguida balançando levemente, juntamente com seu rabo longo. Só me faltava vir com uma bola de pêlo...*
- Hey, você! - uma voz me chamou.*
*Virando a cabeça já com a visão "em ordem", afim de encarar a origem daquela voz grossa e energética, deparei-me com um homem bem barbado e de avental imundo por trás do balcão velho, tal como o restante da decoração. Seus olhos miúdos não desgrudavam de mim e tinha as sobrancelhas ligeiramente erguidas.*
- Pelo visto veio se hospedar, não é, criança? - foi dizendo, apoiado na divisória, sem mudar o tom nem desviar o olhar - Por quanto tempo?
*Arrumando os óculos sobre o nariz, baixei um pouco o olhar enquanto pensava. Alguns segundos se passaram antes de responder com certeza, ainda que com a voz visivelmente cansada.*
- Somente uma noite, senhor. Teria um quarto para mim?
- Não me chame por "senhor", garota! - retrucou com desgosto e rispidez. - Me chama de Caolho. É como todos fazem mesmo... Tem vários quartos vagos lá pra cima - e indicou com a cabeça uma escadaria que dava para os andares acima - Porém, recomendo o número 1. Vai lhe custar 20 galeões e 7 cicles.
*Inevitavelmente, arregalei meus olhos cinzentos de surpresa e meu gato acabou por soltar um som ameaçador, tal como se não tivesse gostado do que acabara de ouvir. Afinal, eu iria passar uma noite, não três!*
- Muito bem... - foi dizendo enquanto encarava significantemente o meu bichano sobre a mesa. - Sua sorte é que tenho fobia à gatos, garota. Certo, 10 galeões! Agora, suba. Também tenho que ir para a cama... - e desapareceu mais para os fundos além do balcão.*
*Carregando o embrulho de materiais novamente, meu gato, ainda sem nome, me seguiu por terra enquanto subíamos rumo ao quarto que nos fora falado. Não antes de receber um sorriso meu e um elogio em sussurro.*
- Muito bom, bichano. Precisamos arranjar-lhe um nome mais tarde, certo?
*Chegando ao aposento um, vislumbrei-me com a maravilhosa decoração. Do jeito que eu gostava: elegante. Sorrindo satisfeita, deixei o material e a varinha, a qual tirei do bolso das vestes, sobre uma mesa de cabeceira e, deitando-me de pronto na cama, adormeci profunda e imediatamente com o gato bem ao meu lado. Sequer me preocupara em tirar os óculos, de tão cansada. Apenas me cobri e dormi automáticamente. Sequer reparei quando a mesma mesinha de cabeceira se quebrou feito palito de dente com o peso que recebia, espalhando tudo ao chão e fazendo minha varinha parar debaixo da cama...*
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[OFF] Vamos fingir que se passou um dia, ok? :S [/OFF]
*O som de moedas de contra a madeira do balcão foi o único não-rotineiro por toda a Taberna. Estava parada, encarando um Caolho de testa muito franzida e que, aborrecido, encarava os oito galeões na mesa. Meu gato, ainda sem nome, estava bem ao lado de uma das pernas cobertas pela longa saia preta que vestia. De cabeça erguida, como eu encarava o banqueiro, balançando levemente a cauda de um lado para o outro demonstrando uma atenção aguda no homem.*
- Oito? Eu disse que cobraria dez! Está faltando dois galeões! - foi dizendo Rosel Caolho, muitíssimo aborrecido e indignado.*
- Sei disto. - retruquei indiferente, meu olhar atravessando as lentes de meus óculos, quase parecendo perfurá-los - Acontece que a mesa no qual coloquei meus materiais - e indiquei por cima do ombro o pacote rasgado e sujo em que estavam meus utensílios da lista de Beauxbatons. - despencou como palito de dente. Apesar da aparência, a madeira, analisei, estava muito podre. Sem mencionar meu gato que quase morreu com o despencar da cama igualmente velha. Com todo respeito, estou sendo generosa em pagar esta quantia. Por mim pagaria cinco.
*Os olhos de Caolho se estreitaram, lançando-me o pior olhar que ele parecia ser capaz de transmitir. Faiscante, não desviada de mim, no entanto não lhe dava muito significado. Alguns segundos depois, não restou-lhe alternativa senão apanhar as moedas e permanecer em um silêncio furioso, bufando enquanto apanhava as moedas todas de uma só vez. Dando um sorriso pequeno e satisfeito, finalizei, falando enquanto caminhava e apanhava meu pacote com o felino em meus calcanhares.*
- Agradeço por absolver-me. De qualquer forma, não pretendo me demorar mais. – nisso, girei nos calcanhares para encará-lo com os materiais em mãos – Quem sabe, nos veremos em um futuro próximo, hm?
*Dando-lhe um breve aceno com a cabeça, enfim, como gesto de despedida, abandonei a taberna-hospedaria. Bem ao meu lado, meu gato listrado balançava a cauda pomposamente. Pouco antes de fechar a porta, ouvi o Rosel bradar:*
- Você se acha muito esperta, não é, garota? Mas não é, ouviu bem?!
*Olhando por cima do ombro e das lentes, fiz questão de corrigi-o com leve ironia e um sorriso suave esboçado em meus lábios rosados.*
- Vai saber. Além do quê, sou Meg. Meg Sunshine – e fechei a porta às minhas costas, partindo do local e deixando para trás um banqueiro insatisfeito.*